Alta Tensão

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Leitor(a), não se engane — onde termina a ficção e começa a autobiografia? Cada uma me emprestou seus óculos — lentes cor- de-rosa da resiliência, lentes negras da dúvida, lentes transparentes da franqueza. São minhas e não são minhas. Algumas trazem cicatrizes que reconheço, outras carregam segredos que nunca ousei viver. Madalena, com seus arrependimentos. Renata, com suas tentativas de fuga. Fátima, com sua felicidade pastel — quantas delas já habitaram meu espelho? Este livro é a casa onde moram. Umas chegam de mansinho, como Inês. Outras arrombam a porta, como Clarice Lispector (a única que ouso citar por nome completo, tão grande é seu mito). Leitor, não se engane: por trás de cada "ela", há um "eu" espreitando. E talvez — quem sabe? — um "você" também. Afinal, quantas mulheres cabem numa só vida? Se estas páginas forem um espelho, prepare-se para ver múltiplos reflexos. Alguns vão doer. Outros, libertar. (E se você se reconhecer em alguma delas, há um abraço escondido nas entranhas. Pegue-o quando precisar.)

— A Autora