Um sonho que quase deu certo

Em 03/03/1957, aos 16 anos, deixei para trás, minha família, meu quarto, minha cama, meus amigos, meus amores, minhas dores, meus odores, lá no interior de MG, na cidade de Ubá. Meus pais decidiram que eu viria continuar meus estudos na Capital, em BH. Fui acolhido, com muito amor e carinho, em BH, pelos meus tios e padrinhos, Paulo Emílio de Mendonça Pinto e Nair Brandão Pinto. Souberam, com sabedoria, suprir a carência afetiva, daquele momento tão especial na vida daquele garoto aventureiro. Minha tia era uma mulher à frente de seu tempo, uma espiritualista convicta. Desenvolvi muito minha espiritualidade com ela. Meu tio, apesar de sua formação de engenheiro, era um poeta, um sonhador, mais especificamente, um TROVADOR. Tomei o gosto pela Trova através dele. Era um trovador de escol. Como exemplo do que digo, vejam essas maravilhosas trovas feitas por ele.

Essa engrenagem que é a vida.

Esmaga a todos, sem dó.

E a gente, aos poucos, moída.

De novo volta a ser pó.

A mulher ao fazer vestido.

Procura a saia encurtar.

Quando senta quer esconder.

Aquilo que quer mostrar.

As suas cartas, senhora,

Releio-as de quando em vez.

Mas nelas só vejo agora,

Os erros de português...

Quando vinhas caminhando,

Disse alguém com grande humor:

“Eis um pecado passando,

Em busca de um pecador.”

E assim, humildemente, homenageio essas duas pessoas que abriram o coração e me acolheram como um filho. Obrigados tios e padrinhos Nair e Paulo.